As dicas que seguem são apresentadas para pessoas com dificuldades de aprendizagem e TDAH (Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), no entanto, a maioria vale também para pessoas com outros transtornos como autismo, ansiedade, ou ainda, aquelas que não apresentam nenhuma alteração cognitiva ou neural, mas que são desmotivadas e desorganizadas para os estudos e tarefas. Discutiremos aqui a importância de organizar o tempo e os princípios da organização e motivação nos processos de ensino e aprendizagem, contextualizados para diferentes situações.

   Comecemos pelo uso de calendários nas salas de aula e em outros ambientes de estudos. Calendários são importantes instrumentos para organização do tempo, para projeção do futuro e organização de prioridades e tarefas, podem vir acompanhados de tabelas que contenham datas de passeios, provas. No caso, isso diminui muito a ansiedade e dá uma ótima perspectiva da passagem do tempo, em especial para alunos e alunas autistas, que em geral necessitam de rotinas bem estruturadas e para os quais as novidades podem gerar desconforto e estresse. Fazer lista de prioridades nesses calendários proporciona foco e organização para pessoas com déficit atencional e hiperatividade, mas também pode ser uma solução muito boa para aquela pessoa que costuma adiar, desistir ou procrastinar suas metas e objetivos. Os calendários ainda apresentam um componente importante, assim como os relógios, na aprendizagem da passagem do tempo, ponto fundamental no ensino de ciências no fundamental I e II. Tempo e espaço são ótimos recursos didáticos para aprendizagem lógico matemática.

   Fazer lista de prioridades apresenta um valor adaptativo a mais, no que tange ao sentimento de autoeficácia, que é quando a gente sente que é capaz de realizar coisas. Para isso, as tarefas devem vir com os espaços de curto, médio e longo prazo. Os de curto prazo são os mais fáceis, devemos iniciar com eles, claro; são os trabalhos, resumos e estudos do colégio ou da faculdade que devem ser feitos de imediato, a casa que deve estar limpa e, para tanto, podemos fazer tabelas de tarefas, em dias da semana e horários pré-estabelecidos. A vida muito regulada é chata, mas apagar incêndio nunca é a melhor opção para resolução de problemas e para o sentimento de autoeficácia. Por esse motivo, foco nos objetivos de curto prazo, fáceis de resolução e rápidos nos resultados, que oferecem esse conforto e a ideia de que a gente pode mais, pode ir atingindo as metas de médio prazo, tais como, o semestre na faculdade, o trimestre no colégio, aquele espaço especial na casa, no qual vamos nos sentir bem e atingir as metas maiores. Por fim, as de longo prazo, como se formar na faculdade, no ensino fundamental, construir uma casa melhor ou adquirir alguma. Bom deixar isso visível, fazer tabelas e listas e, posteriormente, a partir das pequenas conquistas, construir outra tabela de virtudes e deficiências para alcançar os demais objetivos maiores, com o tempo.

   O tempo das coisas é também o segredo delas. Como nos ensina Eduardo Giannetti, no livro “O valor do amanhã”, acerca da importância de investirmos nosso tempo como investimos em bens ou dinheiro, investimento em saúde, sendo que se ficar devendo, os juros do seu tempo mal utilizado podem vir na forma de doenças, pobreza e insatisfação frente à vida quando envelhecer (Giannetti, 2005). Investir em estudo na juventude, ou quando isso for possível, parece ser a atitude mais consagrada, e está no imaginário do povo que para alavancar as vidas quando se é pobre, só pelos estudos (eu diria alavancar, ao menos, de forma honesta e digna).

   O tempo das tarefas para crianças com TDAH parece ser estimado de forma mais breve que o necessário, tempo curto destinado a cada coisa, por isso a necessidade de recolocar o estudante nas tarefas, algumas vezes, durante um exercício. De fato, um estudo utilizando imageamento por ressonância magnética funcional (fMRI) com meninas TDAH, conduzido por Castelanos et. al., (2001) demonstrou diminuição de atividade no córtex pré-frontal dorso lateral direito, uma porção do córtex pré-frontal relacionada à habilidade de estimar e projetar o tempo. De fato, muitas crianças e adolescentes hiperativos apresentam dificuldade em lidar com prazos e tempos, sendo imprescindível o treino destas habilidades de forma intensa. Por isso, o melhor é dar um prazo para a realização das tarefas e ir percebendo se este prazo é razoável, fazendo ajustes, demonstrando a porção que já foi realizada e destacando o que pode ser feito ainda para completar a mesma. Jogos que necessitam de esperar a vez para jogar devem ser oferecidos e repetir os ciclos de jogada e o treino de esperar a vez, até internalizar o processo.

   Outra área afetada no TDAH são os núcleos basais, em espacial o putâmen e o globo pálido, relacionados aos automatismos cognitivos e sociais, como a tabuada ou nossa vez para falar em um diálogo, o tempo da linguagem, as pausas, respirações, ou as pausas no texto, regidas por vírgulas, pontos, ponto e vírgulas. Muito importante para essas crianças e, em um mundo hiperativo, para a maioria de nós, destacar a segunda parte do enunciado. Isso pode ser feito com um gesto, durante uma solicitação oral, colocar a mão no ombro da criança de maneira gentil e olhar nos olhos e dizer a parte do enunciado que seria a mais importante, geralmente a segunda: “fulano, busque o apagador na secretaria para a profe”, a parte “apagador na secretaria” deve vir acompanhada do olho no olho e se necessário um toque de leve no corpo do aluno, dando ênfase. Por isso, também, circular, colocar em negrito as partes do texto que são mais relevantes, ou que oferecem sentido ao enunciado. Devemos ficar atentos no momento em que a criança geralmente falha, pois pode variar. Sabemos bem a importância do olho no olho e corpórea para estabelecer comunicação, em especial com crianças em um mundo veloz, rico de estímulos e com muitas atribulações e distrações.

   Existem duas regras de ouro no que tange à motivação, já discutido pormenorizado no nosso blog (https://rodrigosartorio.com.br/dinamica-das-emocoes-e-autorrealizacao/). A primeira regra de ouro é que um incentivo pode diminuir o motivo de autorrealização se não estiver imediatamente relacionado a ele; o segundo e mais importante aqui no presente texto é de que só se elogia o esforço.

   O esforço é a única coisa realmente merecedora de elogios e recompensas. Quando se elogia o esforço para que o indivíduo persista em uma meta, se dá força para essa meta, valorizando o tempo e energia gastos e, valorizando a motivação intrínseca, que é o motivo de autorrealização, para que o indivíduo continue com seu gasto de energia e foco direcionado, mas quando se elogia algo que não foi feito com esforço, pode pensar que tudo na vida terá aquela facilidade ou que não é importante. Isso é particularmente notado quando as crianças estão no primeiro ciclo do fundamental, ou na educação infantil, se forem espertas e alertas nas aulas, podem tirar boas notas, mesmo sem fazer os deveres, mas quando a complexidade do mundo escolar se torna maior, a partir do 6° ano do fundamental, se elas não criaram rotinas de estudos, não criarão o hábito do esforço, e gerar muita frustração e desistência, diminuindo significativamente o desempenho nas tarefas e notas escolares. O esforço é a única coisa que deve ser elogiada, nunca e nada que se ganhou da natureza, por genética, enfim. Elogiar tudo em uma criança pode estar pondo em risco seu futuro, no sentido de um engano no que tange ao sucesso, ou ainda, transformá-la em uma déspota, acreditando que o mundo vai sempre achar tudo que ela fizer maravilhoso.

   Elogiar o esforço pode ser feito de diversas maneiras: Pode-se dizer “eu realmente gostei como você fez a tarefa”; “eu reparei que você está se controlando naquela situação”; “eu percebi como você esteve bem naquele conflito”; “estamos vendo o quanto você está se esforçando”; “olhe que ótimas escolhas você tem feito”; “você fez muito bem até aqui, mas pode fazer ainda melhor a partir daqui”; “que ótimo que você completou aquele exercício”.

   Para toda habilidade e competência adquirida em nossas vidas, houve um tempo razoável gasto em treino, energia despendida e abdicar de outras coisas. Treinar o uso adequado do tempo e auxiliar na organização de tarefas e objetivos é função da escola, dos profissionais da educação e saúde, pais e responsáveis, dos líderes de equipes nas empresas. Recursos antigos, tradicionais, tecnológicos e inovadores devem ser utilizados combinadamente, bem como, sermos assertivos e propositivos para que pessoas com ou sem deficiências e transtornos possam aprender esse recurso tão bacana que é a administração dos afazeres e do tempo, da gestão da própria vida.

Bibliografia:
CASTELLANOS, F. Xavier; GIEDD, Jay N.; BERQUIN, Patrick C.; WALTER, James M.; SHARP, Wendy; TRAN, Thanhlan; VAITUZIS, A. Catherine; BLUMENTHAL, Jonathan D.; NELSON, Jean; BASTAIN, Theresa M.; ZIJDENBOS, Alex; EVANS, Alan C.; RAPPOPORT, Judith L. Quantitative Brain Magnetic Resonance Imaging in Girls With Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder. Arch Gen Psychiatr 58:289-295, 2001.
GIANNETTI, Eduardo. O valor do amanhã: ensaio sobre a natureza dos juros. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Imagem destacada: “As três idades” e “As Horas”, Salvador Dali.