Depressão e ansiedade estão entre as maiores incidências de doenças não fatais em crianças e jovens. São caracterizadas por sintomas internalizantes (disforia, anedonia, ansiedade).
   Importante fazer um aparte conceitual aqui. Os sintomas típicos de transtornos mentais comuns podem ser agrupados em dois grandes grupos: 1. Sintomas internalizantes, tais como, disforia e anedonia (sugestivos para depressão maior), retraimento social, ansiedade e sintomas somáticos; 2. sintomas externalizantes, como impulsividade, uso de substâncias, hiperatividade, desatenção e agressividade. Em ambos os grupos podemos ter alteradas nossas habilidades cognitivas com muitos reflexos no dia a dia e incapacitantes de diferentes maneiras (Ferreira, Oliveira e De Paula, 2018).
   Um estudo de revisão (Stockings et. al., 2016) comparou pesquisas envolvendo programas de prevenção à ansiedade e depressão em três diferentes modalidades: 1. Universal: quando os riscos não foram identificados na amostra de crianças e jovens; 2. Seletiva: subgrupo da população cujas as crianças têm aumentado risco de desenvolver transtornos internalizáveis devido à fatores de risco compartilhados; 3. Indicada: crianças com sintomas mínimos, mas, detectáveis, de transtornos internalizáveis.
   Os achados sugerem que intervenções mais eficazes devem conter componentes psicológicos (só, ou, combinados com material educacional). Nesse caso, há uma forte diminuição dos sintomas internalizáveis. A maior redução foi encontrada em programas de prevenção universais quando o facilitador foi o professor ou professora e/ou outros profissionais do ambiente escolar (psicólogos, psicopedagogos, orientadores educacionais), se comparado ao trabalho exclusivamente clínico.
   Uma explicação plausível para a eficácia na prevenção à ansiedade e depressão no ambiente educacional são as repetidas exposições que crianças e adolescentes acabam recebendo, se o programa for continuado. Além disso, os conteúdos formais que a escola oferece sempre vêm acompanhados de material didático pedagógico psicologicamente rico (já discutimos sobre o impacto que literatura dessa natureza apresenta na diminuição dos efeitos do estresse, ansiedade em https://rodrigosartorio.com.br/o-fortalecimento-das-pessoas-e-das-sociedades-atraves-da-literatura/).
   Também o ambiente de trocas entre crianças, adolescentes e profissionais pode amplificar os efeitos positivos das intervenções, inclusive na perspectiva de os jovens serem agentes multiplicadores das informações e treinos. Sabemos que quando a escola discute em maior grau sobre questões de sexualidade e orientação sexual, há maior diálogo sobre o assunto junto às famílias.
   O impacto das intervenções preventivas deterioram com o tempo (9 a 12 meses após o término do programa), portanto, o estudo sugere ainda que tais programas de intervenção devem ser contínuos ao longo de toda a vida escolar estudantil. Para crianças pequenas, a leitura de histórias e trabalhos realizados sobre a expressão das emoções são possibilidades ótimas para ampliar o currículo. Para crianças maiores e adolescentes, a própria grade curricular está recheada de possibilidades. Lembrando que adolescentes, em especial, não gostam de papos com muita formalidade, portanto, partir de um texto, um conteúdo ou algo “informal” sobre comportamento e saúde mental é um ótimo quebra gelo nas abordagens.

Referências Bibliográficas:
FERREIRA, A.A., OLIVEIRA, W.G.A., De PAULA, J.J. (2018). Relações entre saúde mental e falhas cognitivas no dia a dia: papel dos sintomas internalizantes e externalizantes J. Bras. Psiquiatr. 67 (2). jun.2018. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0047-2085000000188.
STOCKINGS, E., DEGENHARDT, L., DOBBINS, T., LEE, Y., ERSKINE, H., WHITEFORD, H., & PATTON, G. (2016). Preventing depression and anxiety in young people: A review of the joint efficacy of universal, selective and indicated prevention. Psychological Medicine, 46(1), 11-26. Disponível em: doi:10.1017/S0033291715001725.

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