Por certo que boa parte da violência na escola emana de fora dos seus portões e muros, mas o bullying é um exemplo claro de como a violência na sociedade se faz espelho nos ambientes educacionais. Tanto a mente de agressores quanto das vítimas foram forjadas inicialmente no seio da sociedade e das famílias.

   A mente do agressor é aquela que espelha a agressão que percebe e/ou sofre em outros contextos; no trânsito, na vida doméstica, na política. A vítima costuma ser aquela criança que internaliza que ela “não presta pra nada”, “faz tudo errado”, “já errou de novo”, que tem inicio e é perpetuado nas famílias e comunidade. O expectador reflete a passividade e, por vezes, um prazer, próprios da nossa sociedade do espetáculo. Não reproduzir e modificar os comportamentos negativos que foram aprendidos em família e na sociedade se torna missão da escola, com mais força ainda em um país que negligencia os saberes e práticas, a educação e os educadores. Neste aspecto, a escolarização ainda é a menor distância entre a barbárie e a civilização.

   É na escola que temos o ponto de corte dos ciclos de miséria e pobreza, é lá que rompemos com os ciclos de abuso sexual (quando se identifica que a criança ou adolescente sofre de abuso, negligência e maus tratos), é nela que devemos por fim aos ciclos de violência.

   O presente texto se apresenta como uma compilação das atitudes e ações planejadas para evitar, coibir, mas acima de tudo, educar para uma cultura de paz, de respeito às normas, normas que devem ser combinadas, discutidas e, principalmente, cumpridas, à medida que o indivíduo vai se desenvolvendo. Esse é o exercício que pode ensinar os indivíduos a respeitarem leis e serem mais cooperativos, respeitosos e empáticos.

   É importante que as escolas reconheçam a existência do fenômeno em seu meio, admitir que o bullying traz sérios prejuízos ao desenvolvimento psicológico e social dos estudantes, e também prejudica o rendimento escolar.

   Os programas de prevenção deverão articular pais, alunos e equipe técnica e pedagógica. A capacitação aos educadores e educadoras para que possam detectar e intervir de forma adequada na solução de problemas é fundamental, com o apoio de consultores especializados, como pesquisadores da área, psicólogos, profissionais das varas da infância e juventude, psicopedagogos.

   Para viabilizar tais programas de enfrentamento da violência escolar é importante que os mesmos constem no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, de forma clara e direta. Tais atividades devem ser iniciadas a partir de um levantamento dos índices e das causas a partir de questionários e entrevistas, redações são importantes instrumentos para que os alunos relatem suas experiências com o bullying.
Este levantamento pode ser a primeira atividade das redes anti-bullying nas escolas, compostas por professores, alunos e equipe pedagógica. Importante que esta rede esteja prevista no PPP e que todos os alunos envolvidos nas estratégias estejam ancorados em um forte sistema de apoio social, físico e virtualmente, dentro e fora da escola.

   Projetos que inibam os comportamentos de bullying e a violência na escola, e que incitem à cooperação e empatia, tais como, campanhas, gincanas, olimpíadas, treino de habilidades socioemocionais, devem ser constantes, inserindo o tema na comunidade escolar.

   Os professores e professoras devem orientar tais redes no que se refere ao conhecimento da realidade escolar (investigação da realidade, divulgação dos resultados das pesquisas e discussão destes resultados em jornadas e seminários, com conscientização e compromisso); a modificação da realidade escolar, adotando estratégias de intervenção e prevenção e; um serviço de denúncia anônima permanente.
Importante destacar que muitos alunos que apresentam caráter de agressores poderiam ser cooptados para integrar estas comissões, se tornando populares não pela violência, mas pela amizade e empatia, respeito e admiração.

   O professor perde muito da sua autoridade em sala de aula quando as regras de convivência não são bem claras, ou mudam com frequência. Uma ótima estratégia é que no PPP da instituição escolar as diretrizes e normas de conduta e comportamento estejam bem claras e definidas.

   O professor a partir disso pode fazer uso da regra para normatizar suas relações e as relações dos seus alunos. Isso gera uma forma de impessoalidade, pois não é uma forma impositiva do professor, mas sim, normas construídas pela própria instituição, não são arbitrariedades do professor e sim, as regras da instituição, que devem estar em locais visíveis, como em cartazes, nas agendas escolares, devem ser informadas aos pais desde a matrícula de seus filhos.

   É preciso criar um ambiente comunitário de carinho e respeito, no qual se dê muito poder à “coisa certa” e muito pouco poder à “coisa errada”. Muitas crianças se tornam agressivas por falta de carinho e afeto nos seus ambientes domésticos, ou ainda, por negligência, maus tratos e falta de limites e normas. A escola deve propor um espaço onde as crianças recebam uma atenção especial em uma sala especialmente montada com brinquedos e jogos.

   Outras intervenções que deram certo mundo a fora incluem políticas escolares claras e democráticas, com a instituição de um documento escrito e combinado com objetivos e regras anti-bullying, tornando os alunos partícipes dos processos de regulamentação.

   O professor e professora devem estar atentos ao clima de sala de aula, buscando sempre pela harmônica e respeitosa relação entre professor-aluno e aluno-aluno. Podem também oferecer suporte de atenção, que são técnicas de trabalho cooperativo de classe, como rodas pedagógicas e de conversa, colaboração mútua entre alunos com maior e menor dificuldade nos conteúdos.

   Melhoramentos estéticos e funcionais das áreas de lazer apontam sempre para um decréscimo significativo nas manifestações de bullying, tendo em vista que grande parte dos casos de bullying acontece nas áreas de lazer e pátios escolares. O envolvimento dos alunos com o zelo destas áreas oferece um adicional de proteção ao ambiente e seus frequentadores.

   Fortemente, o currículo escolar deve estar direcionado para estimular as pesquisas e reflexões sobre a violência como um todo, e há uma gama infinita de possibilidades dos conteúdos para organizar uma pesquisa, debate ou conscientização da temática bullying.

   Por último, mas não menos importante, o treino de habilidades e competências em alunos específicos, agressores ou vítimas, ou aqueles em potencial, com comunicação não agressiva, psicoterapia, acompanhamento psicopedagógico e enfrentamento da situação por parte dos alunos de forma não passiva, mas como protagonistas das mudanças necessárias.

   Devemos ficar atentos às condições e circunstâncias para o bullying: de que ocorre onde não há supervisão, de que escolas bem tratadas desencorajam o bullying, onde há maior interação de professores com os pais desfavorece a prática, a qualidade de vida dos alunos e o tipo de relação intrafamiliar influenciam na incidência do bullying, professores e pais devem procurar perceber as alterações de comportamento do aluno ou filho e utilizar-se sempre do protagonismo juvenil, transformando o fenômeno do bullying em uma oportunidade para compreender e combater a violência na sociedade, uma paz de dentro dos muros da escola que emana para a comunidade inteira.

Bibliografia:
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