Durante seis anos e para evitar filas e congestionamentos no trânsito, chegava muito cedo à faculdade onde lecionava, e lá estava o estacionamento todo disponível para mim. Depois deste período, passei a percorrer o trajeto um pouco mais tarde, e o mesmo estacionamento estava com poucas vagas disponíveis, exigindo que eu buscasse alternativas. Então, me dei conta que havia estacionado o carro na mesma vaga por seis anos, um automatismo cognitivo e motor. Nos primeiros dias após a mudança, sentia até um desconforto de chegar naquele lugar que eu gostava tanto e não ter mais “a minha vaga”, o que, na verdade, nunca houve.
   Somos, na maioria das vezes, resistentes às mudanças, mesmo se elas significarem maiores qualidade e expectativa de vida; apenas uma pessoa em cada nove muda seus hábitos em decorrência de doenças nas coronárias. As mudanças, em especial nos ambientes corporativos, podem ocasionar estresse e insegurança quanto ao trabalho.
   Por outro lado, um ambiente com poucas mudanças não costuma ser estimulante do ponto de vista neural e cognitivo, além do que, não desafia os cérebros e diminui a capacidade de reserva neural ao longo da vida, um aspecto agravante para o declínio cognitivo relativo ao envelhecimento. Os componentes básicos para a estimulação cognitiva – novidades, variedade e desafios – devem estar presentes para um ambiente produtivo e que propicie a autorrealização.
   Mudanças são fisiologicamente dolorosas, o que significa dizer que as áreas do cérebro relacionadas à dor física ficam ativas durante eventos de mudanças e, ainda mais, durante eventos de exclusão social ou alterações bruscas e traumáticas nas relações (Inagaki et. al., 2015; Meyer et. al. 2015). O estresse relacionado às mudanças também aumenta a resposta dos núcleos da amígdala, responsáveis pelo medo e dor, fornecendo desconforto físico e psíquico, diminuindo as respostas inflamatórias e imunes do organismo (Muscatell et. al., 2015).

Núcleos da amígdala
Núcleos das Amigdalas: memória emocional. Respostas de luta e fuga. Respostas de medo, raiva e dor. Muito reativa durante o estresse.

   Mudanças exigem alterações e gastos energéticos por parte do cérebro, além de tempo dispensado em treinos de novos conhecimentos e habilidades e reestruturação de partes do sistema nervoso relacionadas aos automatismos cognitivos e motores. Isso significa dizer que, conjuntos de alterações devem ocorrer nas células e no tecido nervoso para que o novo procedimento, a nova rota e os novos desafios do dia a dia sejam facilitados e, com o tempo, automatizados e acomodados até a próxima mudança necessária. No nível das células nervosas novas comunicações entre neurônios devem ser reforçadas, com aumento das substâncias presentes na comunicação neural, particularmente a Bainha de Mielina, camada de lipídios ao longo do axônio (para a qual o Omega 3 é importante constituinte) que facilita a neurotransmissão, em especial nas áreas responsáveis por componentes das memórias motora e operacional (memória de trabalho).
   É pouco provável que incentivos e recompensas possam apresentar resultados motivacionais de longo prazo, mas podem ser apresentados enquanto prêmios pelo esforço no que tange ao desafio; um novo tema a ser estudado, o equipamento mais moderno e automatizado, a nova máquina ou processo em uma indústria, até mesmo novos gestores que são apresentados. Claro que estamos falando de instituições que queiram aproveitar ao máximo de seus colaboradores, pois o bom profissional também estará interessado que seu emprego lhe proporcione incremento no currículo e na experiência profissional, incluindo a aprendizagem de novas ferramentas.
   Também as abordagens tradicionais dos cursos de motivação, com ênfase humanística, baseadas na empatia, conexão e persuasão, não são suficientes para engajar as pessoas por muito tempo, sendo, por vezes, inócuas inclusive na coesão e aumento da cooperação no grupo.
   Às vezes, os investimentos em imersão de estudos ao longo de um final de semana em um hotel na praia não surtem os efeitos desejados, simplesmente pelas capacidades de atenção e memória serem limitadas em termos de densidade da informação, sendo na sua maioria, descartadas antes da segunda-feira pela manhã. Então que, pequenas doses periódicas de instrução surtirão mais efeitos que dois dias de estudos intensos e maçantes. Neste aspecto ainda, algumas ações baseadas nas neurociências para a formação de líderes e para a redução do estresse podem modificar comportamentos e alcançar sucesso nas mudanças como: uma combinação perfeita e bem conduzida de atividades físicas, boa alimentação, partilha do alimento e de vivências, algumas doses pontuais e fundamentais de informações, trocas de ideias e estimulação cognitiva intensa, opções de lazer junto aos colegas durante essas imersões de finais de semana poderão surtir efeitos positivos nas equipes, como coesão do grupo, senso de identidade e sincronicidade de corpo e mente, além de oferecerem a recompensa imediatamente relacionada ao propósito do treinamento ou formação.
   Uma estratégia importante no que tange à diminuição da resistência dos indivíduos às mudanças é ir incorporando paulatinamente a ideia do que se deseja mudar antes do evento realmente acontecer. Promover insights sempre será mais interessante do que tentar convencer, estas pistas que o ambiente vai proporcionando alteram de forma subliminar nossas percepção e aceitação dos eventos que podem ocorrer. Nada pior do que uma surpresa que gera insegurança.
   Outra forma eficaz de promover facilitação no que tange ao novo é gerar expectativas. Nesse aspecto, o treinamento antecipadamente à ação pode ser ferramenta importante, e nele deverão ser oferecidas as expectativas de coisas boas que aguardam como resultados das mudanças, bem como, definidos os sistemas de retroalimentação contínua. As expectativas são as “cenas dos próximos capítulos”, um prelúdio daquele novo conteúdo, o contexto que justificaria uma espera positiva das alterações no curso das coisas.
   Por último, vale lembrar as regras básicas da motivação: só se elogia e recompensa o esforço e a dedicação (Gazzaniga e Heatherton, 2004), e os incentivos devem estar relacionados de forma direta e imediata a atividade para gerar progresso e autorrealização, cooperação e compaixão, coleguismo e eficiência. As pessoas experimentam as coisas que são projetadas para experimentarem, um bom líder terá a capacidade de direcionar a atenção dos seus parceiros para os aspectos positivos das mudanças.

Referências:
Fer­nan­dez, A., Gold­berg, E., and Michelon, P. 2013. The Sharp­Brains Guide to Brain Fit­ness: How to Optimize Brain Health and Performance at Any Age. Washington, DC: SharpBrains. https://mybook.to/brainfitness. Retrieved January 15, 2015.
Inagaki, T.K., Muscatell, K.A., Moeini, M., Dutcher, J., Jevtic, I., Irwin, M.R., & Eisenberger, N.I. (2015). Yearning for connection? Loneliness is associated with increased ventral striatum activity to close others. Social, Cognitive, and Affective Neuroscience. Inagaki(2015)SCAN.pdf.
Meyer, M.L., Williams, K.D., & Eisenberger, N.I. (2015). Why social pain can live on: Different neural mechanisms are associated with reliving social and physical pain. PLoS One. Meyer(2015)PLOSOne.pdf.
Muscatell, K.A., Dedovic, K., Slavich, G.M., Jarcho, M.R., Breen, E.C., Bower, J.E., Irwin, M.R., & Eisenberger, N.I. (2015). Greater amygdala activity and dorsomedial prefrontal-amygdala coupling are associated with enhanced inflammatory responses to stress. Brain, Behavior, and Immunity, 43, 46-53. Muscatell(2015)BBI.pdf .